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Mostrando postagens de fevereiro, 2018

A casa de Heráclito

Aquele pó louco na manhã confusa fazia sua garganta esmerilhar-se dentro do pescoço. O banheiro estava em obras. A poeira que ele engasgava era um pedaço da antiga casa pulverizado pela força bruta de um martelo sob a mão de um impiedoso capataz. Levantara e fora até a cozinha em busca de um copo que consigo trouxesse água e alguma paz às paredes laringíneas de sua frágil goela. Mas também os copos se ressentiam de uma espessa camada daquele pó que antes houvera sido a parede que separava o banheiro de um  hall   que corria até a sala. Levou o copo à pia e abriu a torneira. Lavou-se o copo sozinho com a água que descia e enxugou-se por um abrupto saculejo, como numa nota da beleza prática e engenho que na atribuição de mérito à gravidade, fazia separar gotas de água de vidro e, onde antes a poeira se encostava, descansava agora apenas um estreito véu de umidade que calava também, com suma delicadeza, a aridez e aspereza da mão que segurava. Levou o copo ao filtro e en