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Mostrando postagens de julho, 2017

O Caixeiro

- Estou dentro de uma caixa. – disse-me certa vez um porco-da-índia. Era um daqueles pequenos que se costuma chamar porquinho. - Ora essa, meu caro, tens abrigo, conforto e comida, por que reclamas da vida? - Eu lo disse, como quem dá o consolo como argumento. Depois pensei naquilo e percebi, na lembrança da expressão daquele porquinho, o quão entediante deveria ser pra ele aquela vida, que parecia se resumir ao próprio tempo em que se declaravam aqueles seus hábitos pueris. Não foi preciso um grande esforço, a partir dali, para que meus questionamentos tocassem o cerne da grande questão da vida moderna-contemporânea urbana (já que só essa eu conhecia). Vivíamos todos dentro de caixas. Andando de dia entre uma caixa e outra, sempre à procura de espaço. Espaço esse, a nossa volta sempre restrito - ou pelas condições de acesso ou pela bruta determinação de sólidas estruturas que se multiplicam pela cidade. Veja lá! Acordava sete horas da manhã e já estava dentro de uma caixa; saia d